Magritte e o Mistério na Arte
A obra de arte O Filho do Homem de René Magritte tem encantado e intrigado pessoas no mundo todo desde 1964. O que faz essa pintura viver no imaginário das pessoas é a pergunta: o que essa maçã está fazendo aí?
Sobre a pintura, Magritte afirmou:
“Pelo menos ela esconde o rosto parcialmente bem, assim que você tem a face aparente, a maçã, escondendo o visível, mas oculto, o rosto da pessoa. É algo que acontece constantemente. Tudo que nós vemos esconde outra coisa, nós sempre queremos ver o que está escondido pelo o que nós vemos. Há um interesse naquilo que está escondido e no que o visível não nos mostra. Esse interesse pode tomar a forma de um sentimento relativamente intenso, um tipo de conflito, pode-se dizer, entre o visível que está escondido e o visível que está presente”.
Gerar certas expectativas no espectador, e assim garantir o seu interesse, manter seu público curioso é o que faz com que ele seja cativo da sua obra, pelo menos enquanto ele ainda não criou o apego emocional em relação a ela.
As obras de Magritte são um exemplo visível do que é feito em uma obra de arte que perdura. Ela intriga, instiga e por fim, faz morada na nossa mente.
O que Magritte fez foi colocar em imagens a ideia de que estamos sempre buscando saber o que há por trás de uma imagem, de uma pessoa, de tudo que vemos. E isso vem do fato de que tudo tem uma máscara de apresentação, um tipo de embalagem, então queremos tirar a embalagem e ver o produto.
“O desejo de conhecer faz parte da nossa estrutura psicológica. Queremos saber o que está além daquilo que estamos vendo”, afirma a psicóloga Denise Ramos, professora de pós-graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “A conquista do proibido, a descoberta da verdade para além da obediência e da confiança na palavra do outro nos levam à conquista do próprio saber. Saber por si mesmo, ‘de cor’, ou seja, pelo coração, tem a ver com essa apropriação, por via da curiosidade espontânea”, afirma o psicanalista Christian Dunker, professor titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
Alguma coisa acontece no nosso cérebro quando algo nos intriga. Tudo começa no córtex pré-frontal, ativado quando nosso interesse é capturado. A curiosidade aguçada aumenta a atividade do circuito cerebral ligado à recompensa, alimentado pela dopamina, uma espécie de mensageiro químico que passa as mensagens pelos neurônios. Ao descobrirmos a resposta que buscávamos, esse aprendizado fica bem gravado na memória, porque o hipocampo, responsável pela formação de novas memórias, também trabalha mais.
Como a curiosidade atiça o cérebro:
ATENÇÃO
O desconhecido seduz o cérebro
MOMENTO 1
A “mágica” começa quando algo intrigante atrai — e mantém — a nossa atenção. No cérebro, esses processos de atenção são mediados por estruturas do córtex pré-frontal.
ANTECIPAÇÃO
A mente busca a recompensa
MOMENTO 2
Diante de um enigma, formulamos perguntas. Entramos, então, em um estado de antecipação das possíveis respostas, o que vai ativar estruturas do cérebro como o núcleo caudado e o giro frontal inferior. Essa ativação está intimamente ligada à antecipação de uma recompensa.
DESCOBERTA
A resposta é gravada na memória
MOMENTO 3
A curiosidade é saciada quando descobrimos a resposta. Para fechar o ciclo, entram em ação estruturas cerebrais associadas ao aprendizado e à memória, como o giro parahipocampal e o hipocampo — que fica mais ativo e, por isso, grava melhor o que acabamos de aprender.
Tudo o que nos intriga gera uma memória mais duradoura. Então se você quer ficar na memória de alguém, crie um pouco de mistério.
Fontes:
https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Filho_do_Homem
https://www.fleury.com.br/noticias/por-que-somos-curiosos-revista-fleury-ed-38