Qual a diferença entre o diferente e o estranho?

Laressa Alkmim
4 min readNov 26, 2020

O cérebro tenta simplificar as coisas separando tudo em caixas e colocando etiquetas para processar as informações de forma mais rápida.

Photo by Niver Vega on Unsplash

Olá,

Quem nunca se perguntou o porquê das tendências da moda, o porquê do preconceito e do bullying? Se parar para pensar um pouco não são todas as coisas diferentes que são excluídas e ridicularizadas, existe o diferente que é admirado e até mesmo invejado.

Um exemplo disso são pessoas que usam óculos, sempre foram ridicularizadas, mas de uns tempos pra cá parece que virou moda usar óculos de grau. Se não acredita em mim pergunte a qualquer HIPSTER. Essa mudança no modo de ver a população com problemas de visão se deve a vários fatores.

· Os nerds agora são milionários;

· Muito mais pessoas tem problema de visão

· As pessoas perceberam que quem tem problema de visão geralmente lê muito, ou seja, adquiriu muito conhecimento sobre alguma coisa e isso fortifica uma imagem de inteligente.

Preste bem atenção nessa parte: fortifica uma imagem de inteligente. A imagem e seu significado traz apego para as pessoas.

Um outro exemplo são as ruivas, as moças ruivas são moda, com seu lindo cabelo de fogo elas são imitadas por muitas outras moças com a ajuda da tintura de cabelo. Mas o que ninguém sabe é que por muito tempo as ruivas sofreram preconceito e que nascer ruivo era uma verdadeira desgraça e eu não estou falando de parecer com o Ronald McDonald. Inicialmente temos a história que os romanos invadiram e conquistaram os citas, um antigo povo da Trácia, passaram a considerar os trácios como escravos. Como estes eram ruivos, o cabelo vermelho virou uma característica inferiorizada. Depois no antigo Egito o deus Seth passou a ser retratado pelos Persas como um deus maligno ruivo associado ao deserto vermelho.

Seguindo essa linha de raciocínio o filósofo Aristóteles chegou a dizer que, enquanto loiros eram bravos como os leões, ruivos eram de mau caráter como as raposas. Nem mesmo os filósofos escapam das armadilhas do simbolismo.

A partir de 1300, obras de arte começaram a retratar Judas Iscariotes como ruivo, e o diabo com cabelos vermelhos e pontudos. Alguns historiadores defendem que a ideia de retratar Judas ruivo, originalmente, era apenas para dar destaque a ele nas pinturas. Provavelmente o mesmo feito com o Ronald McDonald já que o vermelho cientificamente chama atenção e desperta a fome, por isso a combinação de cores que o McDonald’s usa é amarelo e vermelho e não marrom e azul, até porque o azul inibe a fome.

O que ninguém fala é que o verdadeiro ruivo da bíblia era Davi, isso mesmo o rei Davi era ruivo, e muito pouco se comenta sobre isso. Está escrito em 1 Samuel 16:12–13: 12. Jessé mandou buscá-lo e o fez entrar. Ora, ele era ruivo, de belos olhos e de gentil aspecto. Então disse o Senhor: Levanta-te, e unge-o, porque é este mesmo.
13. Então Samuel tomou o vaso de azeite, e o ungiu no meio de seus irmãos; e daquele dia em diante o Espírito do Senhor se apoderou de Davi. Depois Samuel se levantou, e foi para Ramá.

Entretanto na sociedade a imagem dos ruivos só se tornou admirada e invejada por causa da rainha Elizabeth I que assumiu o trono da Inglaterra ganhando a empatia do povo no século 17, seus longos ruivíssimos cabelos viraram moda, e essa moda até hoje segue firme e forte graças a influência da realeza.

Outra forma de preconceito é o linguístico, se você fala de certa maneira no lugar errado você é automaticamente marginalizado naquele grupo. Isso vem de muito tempo, como quando os conquistadores proibiam os nativos de falar em seu próprio idioma para que aprendessem a falar apenas o idioma dos conquistadores. O jeito como fala, o seu sotaque, entrega de onde você vem. A imagem do lugar de onde você vem se torna parte da sua imagem e então o seu rótulo está pronto, se isso é bom ou ruim, depende da situação.

No fim das contas tudo se resume a influência que uma imagem exerce no pensamento coletivo. Nossos cérebros procuram categorizar tudo para poder trabalhar as decisões que temos que tomar. Essas categorias que colocamos muitas vezes são preguiçosas e enganosas, são na verdade influenciadas. Nunca se sabe exatamente o que uma coisa significa até conhecer, mas não temos como conhecer tudo, então tiramos conclusões pelo que passam para nós sobre essas coisas, por meio de imagens, falas, sensações, etc. O diabo está nos detalhes, e uma mentira só é boa o bastante quando vem no meio de algumas verdades.

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